Um filme esperto

Li muitas críticas positivas para o filme “Vigaristas” (“The Brothers Bloom”, 2008, dirigido por Rian Johnson), mas não consegui assisti-lo nas salas. Assim, fiquei bem contente quando o encontrei na prateleira da locadora. Parecia um programa bacana pra domingo à noite. Não foi. Desde o primeiro plano da primeira cena, até o último plano da última cena, o filme faz uma força extraordinária para ser esperto. Começando pelo roteiro, é claro, mas passando coerentemente pela fotografia, pelo elenco, pela arte, pela montagem, por todo e qualquer aspecto estético que possa contribuir para a esperteza geral da obra. O roteirista fica o tempo todo gritando “Como eu sou esperto e escrevo bem!”, enquanto o diretor (que é a mesma pessoa) responde: “E como eu sou esperto e dirijo bem!”, e o fotógrafo, “Como eu fotografo bem!”, e assim por diante. O produtor de objetos grita: “Veja como meus objetos são espertos!”. Um dos filmes mais irritantes de todos os tempos.

 

Nada contra os grandes estilistas. Mas para escrever ou filmar “muito bem” é preciso: (1) ter algo a dizer; (2) não bancar o esperto. Gosto das frases complexas de Updike, dos parágrafos meio barrocos de Roth, assim como admiro os movimentos de câmera de Bertolucci e os enquadramentos altamente elaborados de Kubrick. Nenhum deles banca o esperto como Rian Johnson em “Vigaristas”. Nenhum deles parece estar se exibindo o tempo todo. “Vigaristas” é o exemplo consumado de como o cinema pode ser (assim como a literatura) uma linda caixa cheia de vácuo e aborrecimento. Johnson pretendia parafrasear o filme “Um golpe de mestre” com um toque pós-moderno e esperto. Que ideia infeliz! Que desperdício de tempo e de dinheiro. Que narcisismo chato.

 

Mas “Vigaristas” teve seu lado positivo: me fez lembrar da convivência com o mestre Aníbal Damasceno Ferreira, que um belo dia, no bar da FAMECOS, me garantiu: “Arte não tem nada a ver com esperteza”. É isso aí. Que os espertos ganhem muito dinheiro (eles costumam se dar muito bem), sejam muito felizes (o que fica mais fácil com o dinheiro que ganham), mas que deixem a literatura e o cinema para os menos espertos. Estes, mesmo quando erram, são muito mais interessantes.

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