Um capítulo importante e original do cinema gaúcho está se encerrando hoje, com a morte do meu amigo Sérgio Silva. Mesmo que seus filmes continuem muito vivos, lamento a partida prematura, aos 66 anos, de um cineasta que ainda poderia nos dar muito mais. Mas este País sabe ser muito ingrato com seus artistas. Seu último filme, “Quase um tango argentino”, não teve lançamento comercial, o que é mais que um absurdo. É uma vergonha. E não venham me falar das dificuldades que o “mercado” tem para absorver certos filmes. O “mercado” absorve toneladas de lixo norte-americano, enquanto recusa espaço para filmes autorais brasileiros.
Conheci o Sérgio quando comecei a brincar com super-8, no final da década de 70. Ele fazia parte de um grupo de realizadores – primeiro chamado “Câmera 8” e depois “Filmes do Guaiba” – com Tuio Becker (que também já nos deixou), Wanderley Ponzi, Claudio Casaccia, Guaraci Fraga e outros amigos, principalmente do teatro, como Luiz Paulo Vasconcelos e Sandra Dani. Um pouco mais velhos e bem mais experientes do que a minha turma na realização de filmes, eles sempre nos incentivaram e apoiaram, enquanto a nossa brincadeira virava profissão.
“Anahy de Las Misiones” é um excelente filme. Bem escrito, bem filmado e bem interpretado. Mostra gaúchos sofridos, quase sempre a pé, que estão muito longe dos mitos que o movimento tradicionalista construiu, para o bem (às vezes) e para o mal (muito mais frequentemente) do nosso imaginário. O desempenho de Araci Esteves – para mim o ponto máximo de sua carreira – já seria motivo de orgulho para qualquer diretor. Sérgio Silva fez outros bons filmes, mas o “Anahy” permanece como sua obra mais significativa, e nenhuma história séria do cinema brasileiro pode deixar de destacá-lo.
Também não dá pra esquecer o famoso beijo entre dois gaúchos, devidamente pilchados, no curta “O Zeppelin passou por aqui”. Sérgio Silva sempre foi corajoso em relação aos preconceitos que cercam a homossexualidade e gostava de brincar com eles – “A divina pelotense” tem esse mesmo tom -, fazendo uma denúncia bem humorada, e mesmo assim de grande importância política e cultural.
Até mais, Sérgio. O Tuio deve estar te esperando na entrada do cinema onde todos nós – independente do que determina o “mercado” – um dia vamos entrar.
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