Saí há pouco da reunião que escolheu o filme brasileiro indicado para o Oscar. A comissão era formada por Silvio Da-Rin, Secretário do Audiovisual; Carlos Alberto Mattos, crítico; Beto Rodrigues, produtor; Ivana Bentes, professora e pesquisadora; Luiz Gonzaga De Luca, exibidor; e eu. Nós seis combinamos não discutir publicamente o que foi tratado na reunião (como votamos, como argumentamos, etc.), e vou seguir o combinado, mas isso não nos impede de falar do filme escolhido.
“Salve geral” é um filme inspirado pelos ataques do PCC que pararam São Paulo (a cidade que não pode parar) há alguns anos. Confesso que essa ligação direta com o mundo real não é, para mim, ponto a favor de filme algum. O fato de quase todos os filmes brasileiros de sucesso nos últimos anos pertencerem a apenas duas categorias – comédias rasgadas e filmes baseados em “fatos reais” – é um indicativo do que aparentemente o público prefere, e não do que um cineasta com ambições estéticas (as mais importantes, ou então vou brincar de outra coisa) deve realizar.
É, talvez, um indicativo de que ainda não encontramos a maneira mais adequada de apresentar outros tipos de filme ao espectador. Oliver Stone é um picareta talentoso, mas continua sendo um picareta: só filma o que está na pauta, ou que tenha condições de virar pauta por motivos extra-cinematográficos. Não é esse o melhor caminho para fortalecer o cinema brasileiro. Toda fórmula cansa, por mais bem sucedida que ela pareça num dado momento. Assim, a temática de “Salve geral”, antes que eu assistisse ao filme, já me parecia velha. Violência, drogas, policiais mais ou menos corruptos, marginais mais ou menos humanos, sistema prisional, e por aí vai. “Cidade de Deus” inaugurou uma interminável linhagem de filmes, alguns defensáveis, outros definitivamente dispensáveis. E mais alguns vêm por aí, nos cinemas e na TV.
“Salve geral”, contudo, me conquistou aos poucos. Ele começa devagar, parece mais um drama social que um filme sobre violência. É a história de uma professora de piano que está se mudando para a periferia, acompanhada do filho adolescente. Sem dinheiro e cheia de dívidas, é obrigada a vender o piano. A prisão inesperada do filho vai jogá-la no universo dos presídios e do PCC, algumas semanas antes da grande rebelião. A partir daí, o roteiro vai amarrando com habilidade as questões sociais e as particulares, sem tomar partido. Não é pró-PCC, nem pró-polícia, e nem pró-pobre-professora-de-piano-que-quer-salvar-seu-filho.
O desempenho de Andréa Beltrão é admirável, mas o roteiro não permite que torçamos incondicionalmente por ela, que também tem seus defeitos, suas limitações e seus egoísmos. Na verdade, é um filme que tanto faz pensar quanto tenta emocionar. E consegue. Esse equilíbrio é raro no cinema brasileiro contemporâneo, que tem parido filmes intelectuais demais, que não emocionam de jeito nenhum, e filmes cheios de truques dramáticos baixos demais. Também merece destaque o excelente trabalho de direção de atores, num elenco cheio de nomes pouco conhecidos (se comparados com Andréa Beltrão). É muito bom ver rostos novos na tela.
Havia outros filmes muito interessantes na seleção que examinamos. E pelo menos mais dois que, na minha opinião, poderiam – por razões bem diversas – ser indicados ao Oscar. Mas não falarei deles. Será que “Salve geral” vai receber a atenção dos membros da Academia? Sei lá. Quem sabe exatamente o que lhes interessa? Estou mais preocupado com a recepção do filme pelos brasileiros. Quem for esperando um novo “Tropa de elite”, ou um novo “Cidade de Deus” vai se decepcionar, por uma razão bem simples: “Salve geral” é muito menos violento. Ponto pra ele.
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