O maior parque de diversões do ocidente ainda é Nova Iorque

A morna e limpa água de Miami é uma das melhores para quem gosta de banho de mar. Não tem a beleza de Noronha ou dos paraísos caribenhos, mas é um presente para os nadadores. Miami tem bares ótimos, shoppings inigualáveis e hotéis ultra-confortáveis na beira do mar. Dois dias de seminário e encontros com pessoas ligadas ao cinema totalizaram 8 horas de um ar-condicionado gélido para mim que sou muito friorenta. No segundo dia, eu tomei banho e cheguei de cabelo molhado como sempre faço no trabalho. Só que meu corpo não esquentava na sala de conferência. Deveria ter trazido um casaco mais quente para as reuniões. Deveria. Tomei dois divinos banhos de mar, dois dias seguidos com sol nascendo e estava me sentindo uma pessoa muito saudável. Num happy hour de despedida do grupo do mercado, tomei uma cervejinha gelada, apesar de detestar cerveja. Começou a chover e tivemos que entrar para dentro do hotel. Fiquei conversando com uma divertida brasileira que morou muitos anos nos Estados Unidos. O único problema desta nova amizade é que ela estava muito gripada. Ela conversava e assoava o nariz sem parar do meu lado. À noite, comecei a dar tossidinhas, não fui para os bares com o pessoal e dormi cedo pois tinha vôo pela manhã. Três dias de Miami já são suficientes and New York is just around the corner.

Cheguei em NY tossindo muito, com todo o povo me olhando porque o medo da gripe suína ainda é grande. Já morreram 12 na cidade e há muitos casos confirmados sendo tratados. Por sorte não ia ficar sozinha em hotel, pois estava adotada pela querida família Kruchin-Sarapata, que começou a cuidar de mim quando eu cheguei meio devagar. Pensei: não vou ficar doente aqui e agora. Comecei a tomar alopatia e fui para a rua como se nada estivesse acontecendo. O problema é que a primavera ainda não havia chegado de verdade e nunca havia visto a cidade tão úmida, não enxergando o topo dos prédios. Comecei a percorrer cinemas, restaurantes, compras e ruas que nem uma doida, como sempre faço nos primeiros momentos, de tanta saudade. É como aquele velho programa infantil: "Pegue tudo que conseguir carregar".

De todos os filmes que vi, vou falar de quatro:

1 – Uma comédia emocional muito bonita, "Away we Go", sobre um casal onde a mulher está grávida e eles saem percorrendo os EUA e o Canadá. O ator John Krasinski é lindo.

2- "Valentino, o último imperador", um documentário sobre a vida do estilista italiano. Perfeito para mulheres. Foi o único que me fez chorar no final.

3 – Sessão comentada com o belo filho do David Bowie, Duncan Jones, que largou a publicidade para se tornar cineasta. Ainda bem. Fez um filme de sci-fi muito bom chamado "Moon", com a melhor atmosfera lunar que já vi reproduzida no cinema. Custo de 5 milhões de dólares, o que é um baixo orçamento para o padrão róliudi. Seu computador é similar ao Hal de Kubrick, com a diferença que este tem uma carinha smile que muda conforme a situação dos clones que ele cuida. Música ótima, como não poderia deixar de ser. Platéia educadíssima. Ninguém mencionou o nome do pai dele, apesar do clima no ar. Eu só tinha entrado na sessão pela referência ao Bowie. Quando ele passou por mim no corredor, não aguentei e perguntei qual idade dele: – 38, for the rest of my life!

4 – Tudo lindo, mas quem arrasou mais uma vez foi o mestre Coppola. Em seu "Tetro", ele arrebenta dirigindo Vincent Gallo, Carmen Maura, Klaus Maria Brandauer, Marbiel Verdú e novinhos extraordinários. O filme tem um clima pesado ótimo, um final inesperado, me fazendo acreditar em sala de cinema, filme preto e branco, boa atuação e boa música.
 
Isto tudo sempre com um pouco de febre. Comecei achar que estava com gripe suína em algumas situações, principalmente num dia que tossi tanto no metrô que tive que descer na estação e pegar o próximo trem. Mas a minha gripe foi no máximo canina pela febre baixa e pela tosse que provocava latidos absurdos.
 
A convite da minha amiga Babi, fui numa palestra na nova academia que a fisicultora-darling-do-momento Tracy Anderson abriu no Tribeca com a Gwyneth Paltrow. Tracy não dá para ser definida como bonita, pois é uma Barbie loira demais, bronzeada demais, mas tem corpo de criança de tão malhado. Ela é a responsável pelo shape atual da Madonna, que acho muito musculoso e vasiculado. Ela mostrou uma aluna de três meses de treinamento, com 22 anos. Foram as pernas e as nádegas mais trabalhadas e bonitas que já vi. O problema é que a pessoa fica sem cintura. Fica reta do quadril ao peito. É estranho. Acho que vale a pena tentar para quem está gordinha e nadando em dinheiro. A mensalidade da academia é 900 dólares e tem que ter duas horas para malhar por dia, seis dias por semana. O problema é que a homarada gosta de cintura e quadris redondos.

Mas o que eu fui fazer mesmo em Nova Iorque foi comer bem. Só lá tem a categoria organic-vegan-gourmet. Cada vez mais e melhores restaurantes nesta especialidade, com as pessoas mais bonitas da cidade. Na minha classificação particular, o número um sempre foi, por anos, o "Angelica Kitchen", pai de todos, na 12. Há dois anos, minha preferência foi para o "Caravan of Dreams", esta garagem suprema com saladas babilônicas e sobremesas fantasticamente doces mas sem açucar. A questão agora é que veio um coerano que desbancou todos que já vi, só se equivalendo ao nepalês não-vegano Krishnarpan em Katmandu. Seu nome é Hangawi e fica em Murray Hill. As mesas são baixinhas, mas as pernas vão para um vão aberto debaixo da tábua. A sopa começa com espetinhos de legumes e nozes mergulhados num caldo envolto por um prato de metal com fogo no meio. Segue com mais dois cursos de aperitivos com pequenos crepes de legumes, hot philadelphia, cremes de tofu com chutneys. O prato principal foi cogumelos em molho borbulhante com arroz coreano e uma espécie de feijão rosado. A sobremesa, um creme de chocolate caído do céu. Isto tudo com direito a ataque de tosse no meio, com todo o restaurante olhando eu ter que ir correndo para o banheiro. Para quem curte o estilo, tem que conhecer também o Candle 79, o Counter e o barato, simples e inigualável The Hummus Place, para os aficcionados em grão de bico cremoso e quentinho.

Tudo isto lugares para ficar sonhando aos domingos de manhã com fome na cama, enquanto sinto o cheiro da carnificina gaúcha no ar e espero aparecer dos deuses um novo convite para algum lugar maravilhoso do mundo. E a farra continua.
 

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