Norberto Lubisco

A Sala Norberto Lubisco, da Casa de Cultura Mário Quintana, fechou. Li que há razões econômicas (era deficitária) e estruturais (falta de uma saída de emergência) para isso ter acontecido. É uma pena. Vi um filme muito importante – pelo menos para mim – naquela sala: “Festa de família”, de Thomas Vintemberg, a primeira – e talvez a mais bem sucedida – produção do Dogma 95. Também é uma pena que a justa homenagem a um dos maiores fotógrafos da história do cinema gaúcho fique, pelo menos por algum tempo, prejudicada.
 
Lubisco, além de ser o principal colaborador de Antônio Carlos Textor, foi mestre de muita gente. Estou entre seus pupilos, mesmo que o nosso convívio tenha sido breve, pois foi interrompido pela sua morte prematura. Fui seu assistente de câmera em dois curtas no início dos anos 80 – “Urbano”, de Textor, e “No amor”, de Nelson Nadotti. Lubisco me apresentou à velha Arri 2C do Iecine, a primeira câmera 35mm em que toquei. Ela tinha um motor variável, cuja velocidade tinha que ser ajustada no início de cada tomada. Nada que assustasse o Lubisco, é claro.
 
Depois acompanhei de perto o seu impressionante trabalho em “Interlúdio”, dirigido por mim e pelo Giba Assis Brasil, em que ele iluminou um super-mercado com dois refletores abertos de 1000W (os “espalha-merda”). Começamos o filme com quatro refletores, mas duas lâmpadas queimaram e não havia dinheiro para a reposição. Acho graça, hoje, quando um diretor de fotografia pede não sei quantos HMIs para fazer um planinho geral qualquer.
 
Enfim, mais um cinema de rua que fecha em Porto Alegre. Quantos ainda existem? Dá pra contar nos dedos de uma mão. Aqui em Paris, eles estão em toda parte. Em dois meses na cidade, não entrei em shopping-center nem uma única vez para ir ao cinema. É só encontrar a estação de metrô mais próxima, caminhar alguns metros, e o cinema está ali, na calçada. São quase sempre complexos com três ou quatro salas, médias e pequenas. Existem também multiplexes gigantescos, como o de Les Halles, mas ninguém é obrigado a utilizá-los, como acontece diariamente no Brasil.
 
Espero que o governo dê um jeito na sala Norberto Lubisco e que ela reabra o mais rápido possível. Se não respeitam seus ex-freqüentadores, pelo menos que respeitem a memória de seu patrono. Ele não merece mais essa morte antes do tempo.
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