Mais que Tudo

Quando resolvi produzir o filme “Menos que Nada”, uma das minhas motivações foi mostrar o interior cruel de um hospital psiquiátrico. Fui repórter de TV da geral, no início dos anos 80.  Acabei fazendo uma reportagem no Hospital Psiquiátrico São Pedro, o mesmo em que filmamos. Naquela época, fiquei estarrecida com pacientes enjaulados, com grades de ferro e arame em volta de suas camas, gritando e se debatendo. Médicos e enfermeiros insuficientes para conter as crises, aplicando medicação pesada indiscriminadamente. Muita coisa mudou em 30 anos: o São Pedro foi todo reformado e existem bem mais recursos materiais e humanos. O que não mudou foi que muitas famílias largam os doentes lá dentro e nunca mais aparecem. Pior: alguns, passageiros de carros luxuosos, são deixados na frente do hospital e seus parentes não fazem nem a ficha de internação.

 

Acho que o MQN, junto com o “Inverno”, foram os melhores filmes que já produzi. Equipes muito boas, dispostas, e o principal: excelente resultado final. Os relatos que ouvi  nos finais das sessões e pela internet sobre o filme foram muito estimulantes. O que mais gostei: "Este filme é Mais que Tudo!" Ouvir isso compensa quatro anos fazendo um filme de baixo orçamento, pagando menos do que as pessoas merecem, tendo muita paciência para organizar a burocracia.

 

Lançar um filme sem distribuidora é muito trabalhoso, principalmente no formato multiplataforma: salas de cinema, internet, dvd (inglês, francês, espanhol, deficientes visuais e auditivos, making of e clip), televisão aberta e paga. Precisávamos de, no mínimo, 5 pessoas experientes. Nossa equipe foi eu, o diretor, minha assistente e duas estagiárias. Ficamos absolutamente exaustos.

 

Se o mundo fosse justo, iríamos descansar nas Bahamas ou em Bali. Desta vez não deu. Seguimos trabalhando e eu entrei de cabeça em campanha política, mais uma vez. Por que campanha política para uma anarquista que nem eu, que não acredito no poder? Hay gobierno, hay corrupción! Porque Porto Alegre está parada de novo no tempo e no espaço, precisando ser sacudida. Precisamos que a cidade seja a sede permanente do Forum Social Mundial, que se modernize e humanize,  uma festa constante. E nenhum trabalho tem tanta adrenalina como participar de campanha política  na TV e na internet. Cada dia  com novas estratégias, com as pesquisas aferindo debates e performances.

 

Penso muito em parar tudo, me dedicar a mim e aos necessitados, fazendo yoga, meditação e escrevendo. Mas algo diz que ainda não chegou a hora e que tenho que trabalhar duro mais um pouco. Vamos ver no que vai dar.  Hay salud!

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