Se Freud disse que o homem é sexo, da Europa eu digo: o homem atualmente é comida. Estava hóspede, na Páscoa, de uma queridíssima família italiana, onde no café da manhã a preocupação era o almoço, e no almoço, o jantar. As mulheres passavam o dia entretidas em preparar a comida, fazer a massa, os doces, o pão. Em toda a vizinhança, a mesma situação: massa e vinho.
Na França, em boa parte do dia, ou as pessoas estão em restaurantes e cafés, ou no super-mercado, na padaria e no armazém comprando comida. Com a sofisticação francesa, compram uma determinada carne, e depois o vinho mais adequado para acompanhá-la, e depois o queijo que combina mais com o vinho. E ainda tem a sobremesa, que pede outro vinho. E tudo pode mudar dependendo da estação, do clima, do dia da semana. Eles querem a fruta mais madura, o melhor de cada produto. Mas a questão final é a mesma: primeiro estômago repleto, depois o vinho para contentar o espírito.
Nos pagos gaúchos, a situação não é muito diferente: é grande a preocupação com todas as refeições diárias. E todo mundo, é claro, está ligado na possibilidade de churrasco, caipirinha e cerveja do fim de semana.
Apesar dos sites e filmes eróticos estarem em alta total, na prática os adultos parecem muito mais preocupados em comer do que fazer sexo. A comida deve ser a grande substituta ao prazer sexual e à falta de perspectiva no cotidiano das pessoas. É uma válvula de escape logo ali, na padaria da esquina. Bem mais fácil do que ir atrás de drogas ilícitas. Vou descer e comprar uma bomba de chocolate ao invés de ficar escrevendo estas bobagens.