Eric Rohmer, à bientôt

O primeiro foi “O joelho de Claire”, no Cinema 1- Sala Vogue (Independência esquina Garibaldi, onde hoje está uma padaria). Anos 70, os anos da descoberta da literatura, do cinema e da vida, nessa ordem. Depois foram muitos outros, na programação da TVE (lembro de ter comentado dois filmes antes da sua exibição: “O raio verde” e “Noites de lua cheia”), em cópias VHS com imagem ruim e, mais recentemente, em DVDs comprados na Amazon e em viagens pelo exterior. Nos últimos tempos, ficou bem mais fácil encontrar seus filmes no Brasil. Mas, se você ainda não conhece a obra de Rohmer, recomendo “Pauline na praia” como introdução. Há um resumo no livro “O roteiro de cinema”, de Michel Chion. É uma obra-prima, com fotografia minimalista de Nestor Almendros. Um filme pequeno, delicado, cotidiano. Ou seja, uma verdadeira obra-prima.

Uma vez – e aí não lembro quando, mas provavelmente foi nos meus tempos de Colégio Anchieta, lá por 74 ou 75 – o Cláudio Moreno me disse que toda a grande literatura era sobre o cotidano. Não esqueci essa lição. E acho que ela se aplica também ao cinema. E ao cinema de Rohmer em especial. Na tal “nouvelle vague”, enquanto todos falavam de Godard, eu sempre me sentia muito mais atraído por Rohmer e Truffaut nesta ordem, talvez porque Truffaut era uma unanimidade, enquanto Rohmer era uma escolha mais pessoal e mais secreta. Outro dia revi “O joelho de Claire”, e garanto que o filme não envelheceu um dia sequer. Acho que não se pode dizer o mesmo da maioria dos filmes de Godard.
 
Foi estranho estar em Paris no dia em que Rohmer morreu, ler as notícias, esperar as inevitáveis homenagens e necrológios. Ainda hoje, na universidade, falávamos sobre o modo muito particular de realização que Rohmer estabeleceu ao longo dos anos. E de como ele conseguiu um extraordinário equilíbrio entre seus custos de produção (de médios para baixo) e as bilheterias de seus filmes, que sempre entravam em poucas salas, mas eram capazes de ficar um bom tempo em cartaz. Às vezes, numa única sala, por cinco meses! Um velho de 89 anos que filmava com a mesma motivação de um iniciante (dos bons): simplesmente contar uma história. E a história transporta todo o resto.
 
Paris está sombria, faz frio, tá difícil de ficar na rua. Melhor entrar num cinema. Paris, hoje, é um Conto de Inverno. Jean-Marie Maurice Schérer, que escolheu chamar-se Eric Rohmer, com certeza morreu pensando em seu próximo filme. É o único que interessa para um cineasta do cotidiano. À bientôt, mestre. Nos veremos em breve, num dos seus 51 filmes sobre a vida. 
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