Gosto de torcer pelo Grêmio e acompanho futebol há mais de 40 anos. Fui a incontáveis jogos no Olímpico e a muitos no Beira-Rio, tanto para ver Grenais quanto para aquele extraordinário Brasil 3 x 3 Rio Grande do Sul, uma partida inesquecível que misturou as duas torcidas. Belas lembranças.
Mas já nem lembro quando foi meu último jogo no Beira-Rio. Deixei de ir quando a segregação entre as torcidas, o clima de permanente tensão e a possibilidade de levar uma pedrada na cabeça me fizeram estacionar na frente da TV, como milhares de outros torcedores, quando o Grêmio joga "fora de casa".
E, como a violência continua crescendo, e pode provocar brigas até entre componentes de uma mesma torcida organizada – tanto colorados quanto gremistas de vez em quando parecem não se importar em quem batem, contanto que batam bastante – não sei o que o futuro reserva para nós, torcedores "normais", que queremos apenas vaiar bastante o juiz e o adversário.
Os acontecimentos do último jogo do Olímpico e do primeiro da Arena são exemplares. Como a Geral é bonita quando canta e faz avalanche! E como é feia quando se envolve em brigas! Se pudéssemos ficar apenas com a parte bonita seria ótimo. Mas não dá. As atuais torcidas organizadas do Grêmio e do Inter serão sempre ambivalentes.
Elas farão o estádio inteiro sair da inércia, vão incendiar a torcida e levar o clube à vitória e, no jogo seguinte, levarão as mesmas vaias e xingamentos da inauguração da Arena, quando cinquenta mil torcedores "normais" mandaram os dez mil das organizadas tomar naquele lugar. E foi pouco. Aquela briga interminável mereceria uma vaia interminável.
Também acho estranho uma torcida que apoia o time em qualquer circunstância. Os amantes mais apaixonados às vezes se desentendem. Não estou falando de brigas, muito menos de violência. Simplesmente faz parte da natureza humana. Depois a paixão volta e o casal se reconcilia. Futebol sempre foi assim. Quando o jogo termina e o time não jogou coisa nenhuma, uma vaiazinha pode ser bastante justa e terapêutica.
As organizadas orgulham-se de não vaiar nunca o próprio time. Parecem torcedores profissionais, pagos para apoiar sem avaliar o que está acontecendo em campo. Parecem que estão ali para defender o atual "status quo" dos jogadores, da comissão técnica e da atual diretoria. Parecem estabelecer um vínculo subterrâneo, invisível, com quem comanda o clube. Não estou falando apenas das organizadas do Grêmio ou do Inter. É um fenômeno nacional. Talvez mundial.
Não sei qual é o remédio. Mas é óbvio que os tratamentos brasileiros atuais: pequenas multas, exclusão de jogos, retirada dos instrumentos das bandas, identificação dos desmiolados que atiram coisas no campo – são insuficientes.
Também é óbvio que não vai se resolver nada aumentando a violência da repressão. Tanto no Grenal de despedida do Olímpico (na saída da torcida do Inter, que cruzava a Érico Veríssimo com a Botafogo), quanto na inauguração da Arena (quando a péssima organização das filas provocou confusão), tive o grande desprazer de ser ameaçado por brigadianos a cavalo, que agiam muito perto de multidões cheias de mulheres e crianças. Cavalos me lembram a repressão da ditadura. Que fiquem pastando nos campos, onde, alíás, seus excrementos não são tão desagradáveis.
Os torcedores desorganizados, os normais, os que formam a grande maioria no estádio, querem continuar como sempre foram: amadores, passionais, capazes de elogiar e vaiar livremente de acordo com o que veem em campo. Se alguém se excede, que a brigada intervenha – a pé! – e leve o exaltado pra esfriar a cabeça. Se merecer, que leve também umas porradas profiláticas. É o que acontece nos estádios desde a Baixada.
O que aconteceu na Arena – uma briga organizada em escala massiva – não pode mais acontecer. Já ouvi que a provocação para a briga não partiu da Geral, e sim de outras torcidas organizadas, que ficaram sem um lugar próprio e sentem-se ameaçadas de extinção. Na verdade, isso não importa. Não importa quem está brigando, nem quem começou a briga. O que importa é acabar com as brigas e fazer o torcedor desorganizado não temer mais conflitos desse tipo, pois vai para o estádio apenas aplaudir, vaiar e xingar a mãe do juiz. Não quero saber dos problemas das organizadas. Quero continuar desorganizado, torcendo com segurança e liberdade.
Cabe lembrar ainda que a debilidade mental não é privilégio das organizadas. O foguete atirado para dentro do campo durante o Grenal partiu das sociais do Olímpico. Por causa disso, o Grêmio perdeu o mando de campo em um jogo. Um jogo! É muito pouco! O meu Grêmio, a quem apoio de corpo presente há mais de 40 anos, deveria levar um gancho de dez, trinta, quarenta jogos. A temporada inteira do ano que vem sem jogar na Arena! Aí, quem sabe, esses torcedores piromaníacos aprenderiam alguma coisa. Do jeito que a coisa vai, vamos em breve lamentar um olho, uma mão ou uma vida perdida da maneira mais estúpida possível. Aí fecharemos a Arena, o Beira-Rio e o Maracanã, e o futebol será apenas mais um programa de TV.
Esse tempo está chegando. Pode apostar. E nem adianta vaiar.
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