Aqui no Festival de Cannes alguns estrangeiros nos perguntam: o que está acontecendo para o Brasil obter tanto sucesso? Apesar do Brasil não ter nenhum longa concorrendo no Palais, ou selecionado para as paralelas da Croisette, nunca estivemos tão em alta na opinião internacional. É muito bom olhar o que escrevem e dizem do teu país quando tu está fora.
Viajo para o exterior há 30 anos, sempre ouvindo os mesmos bordões: carnaval, Pelé, Ronaldo, Ronaldinho. Sempre fomos o país dos índios, dos negros, das belezas naturais e da pobreza generalizada nas favelas. Quem conhece um pouco o país sabe que a miséria e a má nutrição diminuíram bastante, mas continuam imensas e inaceitáveis. O que desencadeou recentemente a opinião favorável das pessoas sobre o Brasil é o fenômeno chamado Lula.
O presidente brasileiro está sempre nos jornais e revistas européias. É um megastar, em matérias grandes e pequenas. Nesta semana , a revista francesa Le Point dedicou 21 páginas ao Brasil, chamando-o de “O Novo Eldorado”. Uma equipe de jornalistas franceses passou alguns meses no país examinando a situação. Duvido que não tenham algum patrocínio privado brasileiro para a reportagem, o que fica meio claro na matéria, mas, mesmo assim, alguns pontos que eles observaram são interessantes.
Lula, que aparece mergulhando em Noronha, é considerado um sucesso que agrada na Bolsa e na favela, com 83% de aprovação. Ele se relaciona ao mesmo tempo com Obama, Sarkozy, Fidel e Ahmadinejad (este último muito controverso em todos os jornais). Lula é aplaudido em Davos e ovacionado em Porto Alegre (citaram minha singela e saudosa cidade!) . Neste governo, o Brasil faz parte do BRIC ( Brasil, Russia, India e China), que é considerada uma importantíssima frente dos países em ascensão no capitalismo mundial. O BRIC representa 40% da população terráquea e 16% do PIB.
O que mais impressionou os jornalistas franceses é que o Brasil, já estando com toda esta dinâmica no mercado, ainda vai crescer muito mais com a descoberta do pré-sal, ficando entre os 5 maiores produtores de petróleo do mundo na próxima década. Apesar do sucesso do Bolsa Família, do programa de Habitação, e do mercado de ações paulista estar entre o mais rentável do planeta, o humilde Lula não quer a reeleição. O presidente diz que faz bem para o ego, mas é inumano e anti-democrático. Le Point diz que Lula quer que a próxima a tocar o país seja sua ministra, a competente mas pouco carismática Dilma.
Os outros pontos citados pela revista, que parece gostar bastante dos ricos e famosos, são o milagre agrícola do Mato Grosso, Eike Batista (o oitavo em fortunas mundiais, com sua Mercedes de 500 mil dólares e seu casamento desastrado com uma sambista), Paulo Coelho, Dunga, Gisele, Niemeyer, Pitanguy e Raony.
Nas questões mais sociais, a matéria tenta fazer com que os franceses entendam o chamado “racismo cordial” de negros e brancos trabalhando juntos, mas sempre com os brancos de chefes, a questão das cotas para os negros na universidade, assim como a complicada situação das favelas, onde a maioria dos habitantes são considerados “gente de bem” , com uma minoria de bandidos tomando conta da situação. Se já é difícil para nós entendermos toda esta complexidade, o que dirá para os estrangeiros.
Ia escrever sobre Cannes e acabei falando sobre o Brasil. Na próxima acho que vou conseguir, quando diminuir meu contentamento de ter visto o velhinho Woody Allen ontem, descendo as escadas do cinema Lumière. Chorei um pouquinho de emoção.
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