Através do universo

 
O título não foi traduzido para português, provavelmente para que a relação com a canção dos Beatles não se perdesse. Assim, o filme de Julie Taymor parece estar endereçado diretamente aos fãs da segunda melhor banda de rock de todos os tempos (a melhor, todo mundo sabe, chama-se Rolling Stones). No saguão do cinema, encontro o grande cartunista Fraga, que me pergunta: "Será que vamos voltar para os anos 60?" E eu respondo, à moda do capitão Carlos Froner: "Vamos ver." O Fraga é um pouco mais velho do que eu, e certamente as suas lembranças dos anos 60 são mais vívidas. Em 68, eu tinha nove anos, e o que mais guardo na lembrança é o hepta-campeonato do Grêmio, com direito a quatro a zero na decisão contra o Inter. Naquele tempo, pelo menos para mim, Alcindo era muito mais famoso que John Lennon. De certo modo, ainda é.

O filme começou, e apesar das músicas serem boas, algumas interpretações melodramáticas pareciam assustadoras. Outro medo: o protagonista chama-se "Jude", e a sua amada chama-se "Lucy". Nota dez no quesito obviedade. Mas a competência do roteiro, o talento da diretora (que já tinha mostrado serviço em "Frida") e, principalmente, a extraordinária direção de arte, foram me conquistando aos poucos. O desejo do Fraga se concretiza na tela: voltamos aos anos 60, aos protestos contra a Guerra do Vietnã, às experiências lisérgicas, ao conflito entre a utopia dos muito jovens e a realidade do mundo muito velho. Também é muito legal o paralelo entre a Inglaterra e os Estados Unidos. Há simplificações e alguns estereótipos, mas que filme musical não têm? As canções vão se encaixando na história, a gente vai cantando junto (mentalmente, por favor), e tudo termina bem, com "Lucy in the sky with diamonds" nos créditos finais. Até "Hey Jude", com toda aquela breguice musical do Paul, funciona bem.

Não é uma obra-prima, longe disso; contudo, é um filme que fica na memória. Talvez seu maior defeito seja a pretensão de fazer um painel amplo demais. Há referências a Jimi Hendrix e Janis Joplin, que se encontram numa mais que improvável banda nova-iorquina. Há uma tentativa de reflexão sobre os limites entre contra-cultura e o terrorismo. No entanto, há, acima disso tudo, um trabalho minucioso de roteiro, que consegue combinar as letras das músicas com a narrativa de um modo que parece "natural", mas deve ter dado um trabalho monumental.  Podemos esperar mais coisas bacanas da Julie Taymor. Essa, assim como Sophia Coppola e seu belo "Maria Antonieta", não tem medo de trabalhar com os mitos e escapar de suas armadilhas.

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