As mulheres no poder

A Presidenta chama-se Dilma. A Ministra da Cultura, Anna. A Secretária do Audiovisual do MINC, também Ana. Três mulheres nos lugares antes ocupados por três homens. As três principais instâncias de decisão na política cinematográfica brasileira (com a esperança de que a Presidenta tenha um tempinho pra olhar pra gente) são femininas. Isso significa que:
(a) o desejo de Dilma de colocar mulheres no governo é mais fácil de virar realidade numa área com pouco dinheiro, se comparada com setores públicos de orçamentos mais polpudos, e em que os homens jogam mais forte para conseguir cargos;

(b) Dilma crê na sensibilidade feminina numa área em que a sensibilidade é fundamental e, se a política implementada pelos antecessores masculinos não agradava, se é pra mudar, vamos mudar até o gênero;

(c) nada além de uma coincidência: as duas Anas estão ali porque são competentes, e não porque são mulheres (seguindo o exemplo da própria Dilma);

(d) todas as alternativas anteriores;

(e) nenhuma das alternativas anteriores.

Podem mandar suas respostas, acompanhadas de uma justificativa. Eu adoraria marcar a alternativa “c” sem pestanejar, mas tenho minhas dúvidas (e minhas razões particulares para ter essas dúvidas). Não pude estar presente na reunião que aconteceu dia 21 deste mês, envolvendo Ana Paula Dourado Santana (Secretária do Audiovisual) e as entidades de cinema gaúchas. Ainda não ouvi relatos suficientemente detalhados e corro o risco de gritar “Lobo!” antes do tempo, mas me assustei com alguns indícios:

– conversa sobre contingenciamento e diminuição de investimentos, quando antes falava-se em aumentar o orçamento do Ministério;
– conversa cada vez mais pesada sobre resultados econômicos, auto-suficiência do setor audiovisual, etc. Collor está de volta? No Brasil, a agricultura tem financiamentos e subsídios enormes, enquanto o cinema tem que dar lucro? Vamos falar em otimizar recursos, ampliar mercados, dar transparência aos concursos, investir na infra-estrutura. Mas parem de falar em auto-suficiência, ou coloquem logo o Ipojuca na Secretaria;
– conversa sobre “bancar o processo todo”, que me parece simplesmente uma (boa e bem-vinda) idéia para mais um edital da SAV – de desenvolvimento de roteiros – mas não uma base sólida para uma nova política cinematográfica;
– conversa sobre importância da animação (numa palestra da Secretária em Brasília). Por que a animação, e não o documentário, ou o curta experimental, ou as séries de TV, ou os produtos para web e celular? A SAV tem que atender a todos os setores;
– conversa sobre internacionalização. Já vi esse filme no tempo da Embrafilme. Não tenho boas lembranças. Internacionalizar é bom, mas só pode dar certo com mercado interno forte;
– nenhuma conversa sobre a relação das TVs com o cinema. Vamos continuar com o abismo entre os setores?

Mas minha preocupação maior é a aparente nova posição do MINC (ou da Ministra Ana de Hollanda) sobre direitos autorais. Já dei minha opinião a respeito do ECAD aqui mesmo neste blog, e pretendo voltar ao assunto. Quem sabe teremos novidades em breve.

Pra terminar: na verdade, temos apenas dois meses do novo (e feminino) governo. É muito pouco tempo para fazer uma avaliação séria. Nesse momento a gente tem que contribuir com idéias, tentar entender as propostas (tá difícil…) e torcer para que funcione bem. Tenho absoluta convicção de que, na média, o gênero feminino é superior ao masculino, e que a humanidade seria melhor com mais companheiras no poder. Avante, Anas! O audiovisual brasileiro tem uma enorme esperança no poder da mulherada. Mas, preparem-se, porque a torcida – masculina, feminina e GLS – é exigente e quer resultados.

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