Dirigido por Iuli Gerbase, longa explora conflitos psicológicos de casal no confinamento
Quando a covid-19 começou a se espalhar pelo mundo e obrigou as pessoas à quarentena, no primeiro trimestre de 2020, alguns filmes foram lembrados por terem “antecipado” a pandemia. Neste balaio, estão longas como o americano Contágio (2011), o sul-coreano A Gripe (2013) e o argentino Tóxico (2020) – este exibido no 16º Fantaspoa –, que apresentam elementos vistos no cotidiano pandêmico (máscara, confinamento e o pior do ser humano).
O filme gaúcho A Nuvem Rosa, que começou a ser escrito em 2017 e foi filmado em 2019, entra nesse rol: é uma obra que, assustadoramente, tem muito em comum com nosso presente. Mas vai além: aqui o conflito psicológico é o foco da abordagem, o que também é bastante identificável.
Dirigido e escrito por Iuli Gerbase, A Nuvem Rosa foi selecionado para o Festival de Sundance 2021, participando da categoria World Dramatic Competition. Realizado neste ano entre os dias 28 de janeiro e 3 de fevereiro, o evento é um dos mais prestigiados da indústria do cinema, funcionando como uma vitrine para cineastas independentes.
Filha do cineasta Carlos Gerbase e da produtora Luciana Tomasi, Iuli tem em seu currículo curtas como Férias (2013) e A Pedra (2019), além da série Turma 5B. A Nuvem Rosa é a sua estreia na direção de um longa, que tem sua première justamente no badalado Festival de Sundance.
— Foi muito incrível! Tive um ataque quando eu soube. Eu nem estava com muita expectativa. É tão difícil entrar — comemora a cineasta.
Com produção da Prana Filmes e distribuição da O2 Play, o longa combina elementos de ficção científica com drama. Na narrativa, uma nuvem rosa tóxica surge misteriosamente ao redor do globo. Se alguém estiver na rua, a partícula vai até o transeunte e o mata em poucos segundos – não há máscara que ajude. A população se vê obrigada ao confinamento, em uma quarentena sem prazo para acabar. Sair de casa ou escancarar a janela é morte quase instantânea .
Neste contexto, Giovana (Renata de Lélis) está presa em um apartamento com Yago (Eduardo Mendonça). Os dois recém haviam se conhecido em uma festa, na noite anterior ao surgimento da nuvem. Talvez até nunca mais se vissem depois desse primeiro encontro, mas a circunstância os obriga a permanecerem forçadamente confinados juntos diante da ameaça.
Sem opções, os dois vão construindo uma rotina de casal aos poucos. O relacionamento oscila entre altos e baixos. Há duas personalidades diferentes no mesmo teto: Yago aceita a situação e faz dela uma utopia, enquanto Giovana sente-se inquieta, asfixiada pelo confinamento.
Limites
Iuli começou a planejar o roteiro de A Nuvem Rosa em 2016, muito antes de qualquer pandemia. Sua intenção era trabalhar com limites: explorar sua criatividade entre barreiras que ela colocaria para si. Então, surgiu a ideia de produzir um filme com poucos personagens e poucas locações.
— Queria explorar esse relacionamento que é quase um casamento forçado. O que vai surgir disso? Vemos diferentes personalidades e perspectivas do que eles acham que é a liberdade. Os dois têm prioridades próprias. Essas diferenças trazem os conflitos e tornam a relação muito difícil — explica.
Iuli parte dos limites que se impôs para explorar a trajetória emocional de Giovana e Yago, elaborando uma moldura psicológica. A Nuvem Rosa utiliza uma premissa de ficção científica para construir um drama intimista, focando nos conflitos internos. Tanto que uma referência de estética e clima para Iuli foi Melancolia (2011), de Lars Von Trier.
— Não é uma ficção sobre “como vamos conseguir água ou comida”. Aqui são batalhas psicológicas em vez dessas batalhas práticas. A luta deles é com os demônios internos, com o que surge nesse confinamento. Como eles vão se adaptar emocionalmente a isso, que é muito o que a gente está aprendendo nesta quarentena (risos) — ressalta.
Semelhanças
A Nuvem Rosa antecipa muitos hábitos que vimos na pandemia de covid-19, como os atendimentos por videochamada e as comunicações pelas janelas (ao menos no começo da quarentena). Iuli relata que procurou inserir no filme aquilo que fosse tangível.
— Não fiquei pensando num futuro muito longe do que a gente poderia fazer. Tanto que muitas coisas do filme aconteceram na vida real, pois eram possíveis — pontua.
Porém, uma breve citação de alívio cômico se torna uma previsão satisfatoriamente acertada: influenciadores falando sobre o lado positivo da nuvem.
— Logo no começo da pandemia teve uns influencers dizendo assim: “Como você vai tirar proveito e lucrar na pandemia?”. Ou então: “Ah, o mundo agora respira, estava precisando disso”. Quando vejo isso, penso: “Ai, meu Deus do céu, que nem na Nuvem Rosa“. Meu Deus, que horror, sabe. São ainda piores que os influencers do filme, que falam: “Vocês viram que às cinco da tarde há uma luzinha rosa linda para tirar uma selfie?” (risos) — diz Iuli.
Quando a pandemia começou a chegar ao Brasil, não demorou para a cineasta identificar muitas semelhanças com aquilo que escreveu e filmou:
— Cada dia um da equipe mandava alguma matéria para mim: “Iuli, o que está acontecendo? A gente filmou isso ano passado e agora está virando realidade”. Foi um momento surreal para todo mundo. Para nós, teve aquela situação: “Ih, estamos vivendo o nosso filme?”. Uns falavam: “Iuli, tu viu o futuro, tu é vidente”. Sim, vou começar a atender como vidente agora (risos).
Circuito
A Nuvem Rosa será exibido no site do Festival de Sundance nesta sexta-feira (29), estando disponível somente para moradores dos Estados Unidos assistirem. Ainda não há previsão de estreia para o filme no Brasil, mas Iuli espera que o lançamento ocorra no final de 2021. Agora, a intenção é que o longa percorra um circuito de festivais internacionais.
Enquanto isso, Iuli está escrevendo seu segundo longa de ficção científica, que também será intimista. Sem entrar em maiores detalhes, a cineasta adianta que desta vez haverá um alien na trama. Será que vamos ter uma nova antevisão aqui?
Fonte: https://gauchazh.clicrbs.com.br/cultura-e-lazer/cinema/noticia/2021/01/a-nuvem-rosa-filme-gaucho-que-antecipou-a-pandemia-estreia-no-festival-de-sundance-ckk8u857b001o019wd2as5pt0.html
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