Hoje estou de volta ao Rio, pela segunda vez nas últimas semanas. Na primeira vinda, cheguei no momento do anúncio das Olimpíadas 2016, ainda dentro do avião , com os passageiros e a tripulação na maior festa. A cidade estava realmente maravilhosa. Toda a população comemorava, principalmente em um palco montado em frente ao Copa. Era tudo o que os cariocas precisavam para levantar seu desgastado astral. Não que isto vá resolver a curto prazo o crime, o tráfico e a pobreza generalizada, mas chegar em uma cidade alegre, já melhora a impressão dos visitantes sobre esta complicada situação urbana. A reação dos paulistas ao resultado foi de inveja, dizendo que o governo vai gastar muito, mas não apresentaram os estudos de quanto vai ser arrecadado . Melhorando o afluxo de turistas ao Rio, o resto do país é beneficiado.
Fui participar do Festival do Rio com nosso filme "Antes que o Mundo Acabe", com mais uma ótima sessão, coalhada de gaúchos. Como o hotel da delegação ficava no Leme, aproveitei para conhecer aquele canto, sempre para mim misterioso, da Pedra do Leme. As ondas estavam imensas e lindas batendo na rocha. Não sei como os pescadores conseguem pegar algum peixe com este intenso movimento marítimo. O primeiro banho que tomei no Rio foi na ponta direita do Leblon, quando o mar era limpo, aos quinze anos de idade. Apesar de ainda achar lindo o mar daqui, agora apenas molho os pés. Desta vez voltei ao Leblon para comer bem e olhar livrarias. Um dos encantos do Rio é que devido a sua imensa variedade de gente de todos os cantos do mundo, ele ainda surpreende. Fui num restaurante chamado "Universo Orgânico", especializado em comida viva, ou seja: quase tudo cru, com nada esquentado a mais de 40 graus celsius. Nunca pensei que pudesse ser tão gostoso, principalmente para mim que sou friorenta e gosto de comida quentinha. Sempre pergunto o nome dos chefs, que considero verdadeiros artistas da humanidade. Cozinhar bem é uma das atividades mais nobres da vida, junto com dar aulas e exercer a profissão de médico ( a medicina exercida por puristas, e não pelos que entraram nesta apenas pelo valor das consultas). Os bons escritores também merecem toda nossa admiração. O nome da chef do crudicista no Leblon é Tiana Rodrigues, uma descoberta. Gostei tanto que voltei lá hoje para me energizar com esta comida "sattvica" (pura) , depois de realizar um "pitching" (apresentação) de nosso projeto "Recados da Diversidade", para um jurado de 5 componentes da TV Brasil, em sessão pública para 50 pessoas, estando todos os concorrentes juntos na platéia. Me diverti fazendo a apresentação. Isto já é alguma coisa. Se ganhar o edital, ainda melhor. Falei de permacultura, pegadas ecológicas, sustentabilidade, biorremediação, diversidade sexual e o escambau.
Juntando os dois últimos dias, dormi 8 horas, o que para mim é pouco. Com sono, tento me divertir aqui do Galeão, mas está difícil. Em Guarulhos, os restaurante e bares são melhores que no Galeão, que é dureza pura , principalmente no terminal 2. O problema de qualquer viagem na classe econômica é sempre o aeroporto e os vôos. Existe hoje no Galeão passagens Rio- Porto Alegre por 250, 500, 700 ou 800 reais. Para ficar na faixa dos 250 tem que esperar 5 horas no aeroporto, para o vôo das 21h20. Não mereço isto.
– Mas tem lugar no vôo das 5h. Eu não posso ir antes e vocês se livrarem de mim?
– Não. Tem que pagar 550 reais de diferença.
Estes procedimentos para mim não são aceitos como normais. Somos cobaias das companhias aéreas , dos provedores de internet e das telefônicas. Nâo tem saída no momento. Talvez em 2016.
Chego no último fim de semana em São Paulo para reunião de trabalho e para suportar embaixadas estrangeiras que se acham superiores aos brasileiros. Estes diplomatas tem que assistir o nosso programa sobre diversidade cultural. Caminhei da Lorena com a Brigadeiro até a Augusta com a Paulista, ida e volta. Nâo precisava estar chovendo em alguns momentos, pois estava sem sombrinha. Ainda é ótimo caminhar em São Paulo. Eu adoraria entrar no Parque Trianon para ver a mata nativa, mas nunca tive coragem. Acho que tenho que levar um brigadiano (aqui não tem) ou um pit-bull (alugado) comigo. Nos intervalos dos trabalhos consegui conhecer ( de graça porque era sábado) o ótimo Museu da Língua Portuguesa na Estação da Luz. Dois artistas brasileiros destacam-se no museu: Marcelo Tas e Daniela Thomas. O Tas instalou uma engenhoca eletrônica para fazer palavras cruzadas, em que os braços e mãos dos jogadores são registrados por meio de um contorno luminoso em uma mesa/telão, onde todos os participantes caçam sílabas ao mesmo tempo. Quem consegue formar a palavra primeiro, assiste a uma explicação sonora e visual sobre a formação e o significado do vocábulo selecionado. É genial. Já a Thomas criou vídeos sobre palavras em telões imensos que formam uma galeria visual na parede ao longo de todo o segundo andar. Também outra brincadeira muito boa, com os diferentes sotaques nacionais, permite que tu selecione e veja brasileiros falando em micro-regiões do Brasil. É muito legal ver a diferença na fala de pessoas de um mesmo estado. Atravessei a rua e entrei na Pinacoteca com seu belíssimo acervo permanente e desta vez recheada por Matisses passageiros. Tudo de graça.
Comer em São Paulo ainda é o que de melhor existe nesta cidade das artes. O Bio-Alternativa na Alameda Santos com a Augusta conserva sua pureza na originalidade dos orgânicos , nas sobremesas bem leves, nas sopas e nos sucos turbinados. Vários gaúchos foram encontrados na Pinacoteca e no restaurante. O pessoal do sul comparece no feriado. À noite, com gaúchos ainda mais queridos, uma incursão no universo indiano do Tandoor, no Paraíso. Os caras arrasam no forno tandoor , principalmente na confecção do pão nam. Acho que frequento os indianos só para comer o nam com chutneys. Nem precisaria do prato principal. E o que é melhor, neste indiano o vinho tinto é de adega e não vinho indiano. Para ter uma idéia do gosto indiano pelos vinhos, eles chamam whisky de wine. Aí a confusão etílica já está formada.
Assisti a apenas um filme: "Os Amantes" com a Gwyneth e o Fenix. Legalzinho, mas não acrescenta. Se eu conseguir embarcar num vôo num futuro próximo, amanhã estarei em Porto Alegre para o lançamento do novo livro do Airton Ortiz no São Pedro ( o teatro, não o sanatório). Este jornalista escreve muito bem. Já li o seu livro sobre a Ìndia e o último sobre o Everest. Ele diz algo legal do Everest como: " Deus está lá em cima, bem distante, com medo do que podem fazer com ele aqui na Terra". Esta é uma frase que se aplica para usar na abertura de nosso programa sobre sustentabilidade. Agora é a vez do Airton abordar o Vietnam. Antes de conhecer o Vietnam , ainda tenho na minha lista a Indonésia (espero que sem terremoto e tsunami) e o Kailash (uma montanha do Himalaya). Enquanto não chego lá, acho que vou mesmo é pra Santa Catarina, com banhos bombados nesta primavera chuvosa.