O que faz um sujeito de mais de 70 anos de idade, milionário, com a garganta tão arranhada que quase não consegue modular a voz, subir num palco de Porto Alegre, tocar e cantar para um público que conhece no máximo duas ou três músicas do show? Só pode ser uma coisa: ele gosta do que faz e se diverte.
O que esperar hoje desse velho senhor do folk, do blues e até do rock, que com menos de 30 anos já era um mito, mas que passou outros 40 compondo a trilha sonora da ascensão e da queda da contracultura? Eu esperava só uma coisa: que ele se divertisse mais uma vez.
E parece que foi isso que aconteceu. Mas não tenho certeza, porque eu estava longe demais do palco, não havia telão para ver seu rosto, e uns sujeitos grandes e fortes passavam na minha frente de cinco em cinco minutos com uma caixa enorme, tentando vender cerveja e empurrando todo mundo.
O palco era baixo demais. Eu tenho um metro e oitenta e nove e tinha dificuldade para ver a banda. Imagina os baixinhos em minha volta. Talvez por isso muitos preferissem ficar mexendo no celular, mandando a mensagem "Estou no Bob Dylan" para quem estava em casa vendo novela na TV. Um outro, cansado das músicas que não conhecia, gritou: "Toca Bob Dylan!".
Decididamente, esse show deveria ter acontecido em outro lugar. Num bar de tamanho médio, que permita intimidade (que saudade do show do Opinião!), ou num estádio imenso, mas com condições mínimas de conforto e visibilidade. Se é pra massificar, tem que massificar direito. Pra completar, os banheiros não tinham água, fediam mais que mictório de quartel, e na saída enfrentei um engarrafamento de uma hora. Foi minha primeira e última vez no Pepsi On Stage. De hoje em diante, só tomo Coca. É um caso típico de anti-marketing.
E vamos falar a verdade: acabou a voz do velho Dylan. Nitidamente ele prefere tocar órgão e levantou a plateia algumas vezes com a gaita de boca. Não se entende uma palavra das letras, e a melodia de "Blowin' in the wind", pra fechar o show, foi desconstruída até ficar irreconhecível. Ele pode ter se divertido (espero que sim), mas eu gostaria de ter me divertido um pouco mais.
É claro que valeu a pena, não me arrependo, mas naquele lugar não volto mais. Vou torcer para que ele volte a Porto Alegre, quem sabe com uns 80 e poucos anos, e a produção encontre um lugar bacaca. Ele nem precisa cantar. Sugiro que ele fique na gaita, na guitarra e no teclado, desconstruindo suas músicas à vontade e se divertindo. Se isso acontecer, estarei lá.
A série musical em sete episódios “Um ano em Vortex” estreia no proximo dia 29 de novembro, na Cuboplay. Na noite anterior, um show histórico, com as sete bandas da série, acontece no bar Ocidente (ingressos à venda no Sympla).
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