O procurador-geral do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), Paulo Schmitt, está usando a TV para denunciar jogadores de futebol. Ele tem predileção por casos de agressão que não foram vistos pelo juiz do jogo e, portanto, não foram punidos com a expulsão, e muito menos foram a julgamento. A justificativa parece ser a seguinte: se, no tribunal, os advogados de defesa usam vídeos para tentar inocentar os jogadores, a promotoria pode usá-los também para acusar. É óbvio que essa ação do procurador está gerando muita polêmica, porque ninguém sabe exatamente qual é a sua sistemática para encontrar os lances. Ele assiste na íntegra a todos os dez jogos de cada rodada da Série A? Nesse caso, seriam mais de quinze horas de trabalho por rodada. Ou vê apenas os jogos mais importantes? Ou vê os “melhores momentos” de todos? Como ele assiste? Em que canal? Ele grava todos os jogos? Enfim, é tudo muito nebuloso. Os juízes de campo erram (e como erram!), mas todo mundo sabe quais são as suas limitações. Essas limitações fazem parte do jogo. Chamar o juiz de ladrão é tão comum quanto vaiar o adversário. Ninguém sabe as limitações (se é que existem) do procurador. E pior: quase todo mundo (eu fora!) acha que ele está fazendo as acusações a partir de um relato “objetivo” do jogo, porque captado pela "objetiva" da câmera de TV. Santa ingenuidade, Robin! A presunção de objetividade das imagens fotográficas (e de todas que derivam dela: cinema, TV e vídeo) caiu por terra em medos do século dezenove. Todas as imagens técnicas são manipuladas. O fotógrafo Henry Peach Robinson, em 1858, criou "Desaparecendo", uma obra de arte dramática sobre a tuberculose. Parece um instantâneo de uma família desesperada pela morte prematura de uma jovem. Na verdade é uma fotomontagem de oito negativos diferentes. Perfeita. Sem computador. Sem Photoshop. Sem tecnologias digitais. Como é que alguém ainda acredita que as imagens técnicas produzidas em 2008 são registros objetivos da realidade? Todos os registros de uma câmera (inclusive, obviamente, um jogo de futebol) dependem de uma escrita, de uma construção discursiva. Todas as imagens são resultado de opções retóricas. Ou seja, em vez de se basear na súmula, com todas as suas imperfeições e omissões, mas que tem um autor declarado (o juiz do jogo), o sr. Paulo Schmitt está se baseando em relatos que são igualmente subjetivos e autorais, MAS NÃO PARECEM SER. Vilhém Flusser, em sua “Filosofia da caixa preta”, faz exatamente esta advertência. Ou o homem compreende como funciona a tecnologia, ou será eternamente enganado por ela. Esses enganos às vezes podem ser bobos, talvez até inconseqüentes. Mas também podem ser gravíssimos. Vamos considerar que o sr. Paulo Schmitt assista a todos os jogos na íntegra, pois seria absurdo se não fosse este o seu procedimento. Não quero acreditar que ele baseie suas acusações em edições de "melhores momentos", ou em reportagens editadas depois de um jogo, com cenas especialmente escolhidas por um editor cujas preferências clubísticas o sr. Paulo Schmitt ignora. Mesmo assim – se ele vê todos os jogos na íntegra – está na mão de várias pessoas que não conhece e sobre as quais não tem qualquer controle: os operadores de câmera, os suítes (encarregados de determinar que imagem está no ar em dado momento, escolhendo entre todas as câmeras disponíveis) e os diretores de TV (encarregados de determinar onde estão as câmeras, que tipo de ângulo elas devem ter, seus eventuais movimentos e qual é a estratégia narrativa da cobertura). Os operadores de câmera apontam a câmera para onde o suíte e o diretor mandam, mas quem disse que eles não podem tomar algumas decisões próprias, como buscar sempre ter enquadrado em close determinado jogador, para flagrar seus deslizes? E os suítes? Se eles quiserem esconder determinado fato, é só não botar no ar. A câmera capta, mas ele omite. E o diretor de TV? Basta que ele determine, por exemplo, que os técnicos não devem ser mostrados, e eles desaparecem da tela. Enfim, é óbvio que uma transmissão de um jogo de futebol é SEMPRE manipulada. Se essa manipulação é ética, se segue os preceitos deste ou daquele manual, eu não sei. E o sr. Paulo Schmitt também não tem condições de saber. O futebol é coisa séria e tem regras muito antigas. Elas não incluem as imagens técnicas como base para flagrar agressões. Por um motivo simples: essas imagens não são confiáveis. O sr. Paulo Schmitt pode até estar bem intencionado, mas trabalha sobre um terreno absolutamente inseguro. Sou jornalista e trabalho com narrativas audiovisuais no cinema e na TV. Acredito em procedimentos éticos e acredito que a maioria dos meus companheiros jornalistas e radialistas tenta fazer seu trabalho da melhor maneira possível, com isenção e profissionalismo. Mas, em matéria de futebol, não boto a mão no fogo por ninguém. Qualquer um deles – operador de câmera, suíte ou diretor – pode oferecer ao sr. Paulo Schmitt um relato parcial e tendencioso de uma partida de futebol. Qualquer um deles pode decidir um campeonato trabalhando pela condenação de determinado jogador, obtida por imagens de sua conduta cuidadosamente coletadas e selecionadas – ao vivo – durante 90 minutos. Anotem aí: isso vai acontecer em breve. Se é que não está acontecendo agora. Não é paranóia, nem teoria da conspiração. É apenas o estatuto ontológico das imagens técnicas, conhecido desde o tempo de Henry Peach Robinson. Só acreditam nelas os ingênuos, ou seja, quase todo mundo, incluindo o sr. Paulo Schmitt. "Desaparecendo" (1858), de Henry Peach Robinson
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